Belos Beijos   
   "These pretty pleasures might me move,
  To live with thee and be thy love." Shakespeare.
   
         "Por estes prazeres de tanto ardor,
         vou viver contigo e ser teu amor." Trad. Elvé .
   
         Invisto em ti todo o meu tempo,
         tempo que não tem preço,
         tempo que voa.
         Olho teu rosto e vejo em teus olhos cerrados
         faíscas de luz,
         ou arregalados, com um medo que seduz.
         Toco em teu lábio e sinto o gosto de um beijo
         que, se pudesse, não acabava nunca mais.
         Abraço-te, e meus pelos se eletrizam
         no contato com a relva de tua pele nua.
         Tuas pernas são troncos de um Templo
         que venero.
         Dou-te de presente um cinto, brocado em hera.
                      Se por estes prazeres sentires ardor,
                     então, viva comigo e seja o meu amor.
   
              na Lu A
   Minha primeira namorada foi a Lua/...
  da casa em que eu morava, ela subia nua,
  no horizonte azul de minha juventude.
  Do poema "Sonho Real" -  Quases, emc.
   
  Amor! Você está tão perto de mim
  e, ainda assim, tão longe. Não perca tempo.
  O tempo é tão curto, e a vida voa,
  e lembre-se de tudo que eu lhe disse:
              a fome que tenho de sua beleza;
              a sede que tenho de seu perfume;
              e os milhares de beijos pra lhe dar.
              Paciente, vou esperar com ciúme.
  Se um dia, ou melhor, se uma noite,
  você quiser saber e provar qual
  é o gosto do meu amor, então
  entre. A porta está sempre toda aberta.
              No escuro, tire a roupa e deite nua,
              a meu lado e, sem dizer palavra,
              deixe seu corpo lutar contra o meu.
              Venha  cavalgar sem medo e pudor.
  Vamos provar que a vida vale a pena.
  Depois, pegue sua roupa e saia de mansinho,
  e, leve, para sempre, a lembrança de meus
                                                       carinhos.
   
        Ode ao Átomo e ao Amor
   "Vida: um acidente curioso ocorrido
     num canto do Universo." 
                          Paulo Guedes.
   Nosso amor nasceu estranho como o cosmos.
  No início não havia nada.
  Nem espaço, nem tempo, nem vácuo.
  Nada mais que um ponto – uma singularidade,
  onde se concentrava toda a energia do mundo.
   
  E ela explodiu, e explodiu, e expandiu
  seus trilhões de graus, e começou a esfriar,
  há mais de treze bilhões de anos atrás,
  e um átomo se coagulou – era o prenúncio
  de que você poderia nascer um dia.
   
  Seu nome não era Vega nem Lira. Era Belatriz.
  E a Vida começou a crescer até chegar
  ao baobá, jatobá e jequitibá,
  e, depois, ameixa, amora, maçã e o amor.
   
  « Mon amour est née avec la fraischeur
     du fruit vert »
   "Meu amor nasceu com a doçura
    de uma fruta fresca",
   
  sazonada, e devorada antes do tempo.
   
  Coube a mim a ventura de tê-la entre os dentes.
  Ela veio cheinha de deliciosas carnes,
  cabelos pretos em longas madeixas perfumadas,
  seios enormes, prenhes a ser sugados,
  olhos e cílios, lábios e língua,
  toda pronta pra ser beijada e amada.
   
           Zé com duas Muié
   "...tomou as suas duas mulheres,
      e as suas duas escravas,
      com os seus onze filhos..."
               Bíblia, Gêneses, 32-21.
    Sei que quase todos têm uma,
  mas, não sei por que é que é,
  eu tenho duas muié. 
   
  Uma é madura, meio tanajura,
  mas é uma gostosura de muié.
  A outra é novinha, meio bobinha,
  mas faz de tudo que a outra não qué.
   
  Uma eu beijo da ponta do pé,
  até chegar ao ponto que ela qué.
  A outra, beijo dos cachos dos cabelos
  até dentro do facho dos pelos.
   
  Quando uma me falta,
  sinto como se tivesse chupado
  só a metade das laranjas do pé.
   
  Não sei por que é que é,
  mas só sei viver com
                                     duas muié.
        Cozido Muito Doido*
  "Tudo que se mexe é pornográfico"
              Jean Luc Godard
   "...com capricho tampo
       o restinho de molho na panela."
              Adélia Prado.
   Meta a colher de pau lá bem no fundo e mexa,
  e mexa, mexa, mexa,
  mas, primeiro, prepare a panela e o tempero:
  use o dedo e besunte a base com barrela;
  com calma, faça um molho bem molhado,
  de azeite, creme e grelo de bambu.
   
  Paciente, com a ponta da língua, experimente.
  Aparte as carnes: duas coxas e costela,
  linguiça com dois ovos, peito de peru.
  Uma cenoura inteira, (cenoura não se pica)
  lavada, descascada e temperada
  co' azeite virgem, se possível, extra-virgem.
   
  Quando o caldo estiver bem viscoso e macio,
  meta a cenoura ou dente de alho grande e grosso.
              It could as well be an eggplant, big a lot,
              but at times it doesn't fit into the pot.
               Pode também ser uma berinjela
              mas, às vezes, não cabe na panela.
   Aqueça "a cenoura" até ficar bem roxa.
  Sinta o sabor, devagar, antes de murchar.
   
  Ponha tudo em panela funda e em fogo brando,
  junte um saco com ervas de cheirinho doce.
  Se ferver, baixe o fogo e comece de novo.
  Bom cozido demora mais de duas horas.
  E, se estiver no ponto e a gosto, a panelada,
  meta a colher de pau lá bem no fundo e mexa,
       e mexa, mexa, mexa, até de madrugada.                          
   *Poema dedicado a Elke Maravilha.